Gosto de observar boas doulas atuando e presencio, com relativa frequência, algumas ajudarem a mulher a lembrar-se de respirar profundamente só com o olhar e com sua própria respiração, por exemplo. A conexão é tanta, o respeito ao momento é tão necessário, que a “intervenção”, a “correção” da respiração desesperada pode ser feita só com a sugestão não verbal.
Isso faz refletir sobre essa ideia de que a gestante precisa se preparar para o parto. Eu concordo que precisa e sou a primeira da fila a insistir a respeito, especialmente no que diz respeito à busca incessante por informação, para que escolhas sejam de fato conscientes. Mas ela se prepara até o parto. Chegando ali, é hora da entrega, de deixar ser. Não é a hora de racionalmente colocar em prática coisa nenhuma, pelo contrário, é confiança no fisiológico, segurança de que não só é possível, como é provável – e se não for, as intervenções estarão lá pra serem indicadas em momento oportuno, SE oportuno.
Nesse sentido, entendo que tudo bem se durante a gestação houver quem ensine a apurar a propriocepção àquela mulher, quem a ajude a conhecer o próprio corpo, sugira técnicas, posições, respirações, posturas. E entendo quem se sinta mais segura com tudo isso no pré-natal, mas que esteja bem claro que são sugestões e não treinamento.
Não se treina o corpo pro que ele já sabe fazer – não vejo mesmo sentido nisso. Não se empodera ninguém: se mostra o caminho, mas empoderamento é processo individual, parte de dentro pra fora. Não se ensina ninguém a parir, o parto é único: é soma de vivências, sabedorias, medos que se precisam combater, guerras que se precisam travar… e não do conjunto de técnicas que ela aprendeu ou deixou de aprender. Ou de como deve se comportar ou não em cada fase do trabalho de parto. Munida de tudo que viveu e experienciou, cada mulher encontrará sua própria forma de fazer – é claro, se acompanhada de equipe que lhe dê espaço, que lhe proveja, que lhe deixe ser como quiser.
Vamos dar espaço, então? Liberemos mulheres de nossa ânsia de tutela, elas saberão o que fazer. Confiemos.
Texto: @biaherief
Foto: @marciapiresfotografia