Uma reflexão sobre interferências bem intencionadas, mas desnecessárias

Tenho visto, há algum tempo, que muitos profissionais bem intencionados vem se preparando para prestar melhores assistências às mulheres e acabam precipitando-se e interferindo em processos que poderiam ser mais naturais, instintivos e ter menos interferência externa. Não me refiro tão somente a profissionais técnicos, mas a doulas também. Falo aqui especificamente sobre a cena do parto e a moda do spinning babies: será que todas as mulheres precisam de estímulos assim? Será que todas as mulheres precisam o tempo inteiro de sugestões de posições e exercícios?

Já falei aqui que não condeno a técnica (muito a utilizo em partos distócicos), tampouco o preparo humanizado e respeitoso desses profissionais, sendo inclusive a primeira a indicar e incentivar. Apenas convido à reflexão: qual é o limite de tudo isso? Difícil definir a tênue linha que separa apoio de intervenção desnecessária. Ensinar a mulher a se perceber e a desenvolver maior propriocepção, encorajar o uso de técnicas de respiração/relaxamento e hipnobirth são atitudes muito válidas e recomendadas ainda no pré-natal, por meio de equipe multidisciplinar (quando possível).

Mas exigir que essa mesma mulher aprenda um passo a passo, uma receita de bolo e esperar que ela tenha consciência – justo no momento em que falamos tanto para que ela desligue o racional – é, no mínimo, discutível. Meu ponto é que técnicas devem sim ser oferecidas, mas quando de fato necessárias/solicitadas e nunca impostas.

Ainda que existam incontáveis exercícios e posturas que podem ter claro benefício durante o trabalho de parto, por corrigir possíveis maus posicionamentos de cabeça fetal, ajudar o bebê a encontrar a saída e a descer pelo canal de parto, acho que precisamos pontuar que muita gente quer mesmo é ficar coordenando a mulher e orientando como ela deve se comportar. Algumas mulheres de fato solicitarão mais ajuda e se beneficiarão de sugestões, sendo a minoria com necessidade real de toda essa tutela. Estejamos atentos para não tomar para nós um protagonismo que não nos pertence. Temos de deixar ser. Temos de nos lembrar o tempo todo do mais básico: confiar na fisiologia do parto e permitir que a mágica aconteça. 

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