Como falei no final do post anterior, a analgesia é uma intervenção que, quando bem indicada e após esgotados todos os recursos não farmacológicos, pode ser muito benéfica para o parto. Porém, como qualquer intervenção, ela também possui riscos associados e é sobre isso que vou falar aqui.
⠀
– Benefícios da analgesia de parto: basicamente permite que a mulher que já está no seu limiar real de dor possa ter alívio e seguir no processo do parto normal. Atenção que, quando falo em limiar real de dor, falo de limite mesmo, falo de dor extrema, extenuante, incessante. Esta mulher, que no mundo ideal já estará bem informada a respeito dos riscos e benefícios, vai receber conforto para os próximos momentos do parto.
⠀
Também pode valer muito a pena para partos muito longos e arrastados, em que talvez a mulher ainda não esteja no limite de dor, mas já no limite de exaustão. Nesse caso, a analgesia vai funcionar como um break breve para retomar em seguida. E por que eu falo sobre retomar em seguida? Porque não necessariamente a analgesia precisa ser mantida até o final do parto, ela pode apenas servir como um descanso para posterior retomada de maneira natural.
⠀
– Riscos da analgesia de parto: a mais comum e que se relaciona com o que eu falava aqui em cima é a perda da propriocepção do parto enquanto o efeito dos fármacos durarem. O que é isso? É quando a mulher deixa de sentir não só as dores, mas também os puxos, contrações, não sabe mais que posição adotar etc. Preferimos, então, que ela descanse, deixe o efeito passar e depois retome com total consciência corporal, de maneira que não precise de mais intervenções – que é justamente outro risco da analgesia, a cascata de intervenções. Muitas vezes, com a analgesia, as contrações reduzem a frequência, duração e intensidade ou simplesmente param. Caso isso ocorra, fazer-se-á necessário o uso da ocitocina para correção e, em alguns casos, vácuo-extrator de alívio (já no expulsivo).
Além desses, também existe o risco mais grave, que é o de bradicardia fetal mantida imediatamente após o procedimento, que pode acontecer secundário à hipotensão materna – e a despeito da técnica utilizada ou da competência profissional. Alguns casos não se resolvem com manobras específicas e acabam levando à indicação de cesariana. Nesse sentido, a analgesia aumenta o indiretamente o risco de cesárea.
⠀
No próximo post, discutirei qual é o melhor momento para uso da analgesia e qual é a disponibilidade do procedimento na rede particular e no SUS.