A história se repete: a mulher fica engravida. Logo começa a pensar sobre o parto, ouve histórias terríveis, pensa nas cenas aterrorizantes de filmes e séries que assistiu e prefere agendar a cesariana para se poupar de tanto sofrimento. Embora tenha em mente que o parto normal é melhor, ela está com muito medo da dor e de tudo que ouviu falar. Surpresa, descobre que este é apenas um dos muitos medos que ela vem sentindo desde que ficou grávida.
“Será normal?” – ela pensa.
Totalmente.
Como não ter medo? Cedo ou tarde cai a ficha de que se está gerando uma vida que será de sua inteira responsabilidade muito em breve (com sorte, com a parceria de um companheiro ou companheira presente) e por muito tempo. Racionaliza, ainda, que essa criança chegará neste mundo atual confuso, pandêmico. E, para piorar, esse bebê terá de sair de dentro dela de algum jeito, através de uma dor que ela só conhece como “a pior dor da vida” ou “a dor de vários ossos se quebrando ao mesmo tempo”.
Mas tem uma coisa que talvez essa mulher não saiba: quando bem assistida e apoiada, a dor do parto é uma das únicas na vida que não vem acompanhada de sofrimento. Dói, é lógico, não dá para negar. Mas não se sofre. Só sofre quem não está amparada, quem não teve informações, quem está passando pelo sombrio lugar do desconhecido.Sofre quem passa por intervenções violentas, desnecessárias e perigosas, além de não receber qualquer explicação ou consentimento a respeito. Sofre quem acha que será maltratada, quem é diminuída, quem é infantilizada, quem não recebe amor, carinho, abraços, segurança, acolhimento, paz. E isso não é dor de parto, é dor de abandono.
Dor de parto é dor profunda, dor que carrega para outro tempo, outro espaço. É dor capaz de mostrar muito sobre você mesma, sobre paciência, sobre ultrapassar limites, sobre viver o agora. É uma oportunidade: dura, real, sem romance. Lembre-se que essa dor faz parte de sermos mulheres – e não porque nascemos para sofrer, mas sim porque viemos com um poder: o de conseguir trazer pessoas ao mundo. Esse poder é tão soberano que dá medo sim. E dói. Dói também se transformar, se entregar, renascer. Toda disruptura dói.
Vai doer e, ainda assim, vai ser uma das experiências mais incríveis da sua vida.