Síndromes Hipertensivas na gestação – Síndrome de hellp e eclâmpsia

Ainda sobre a pré-eclâmpsia, existem os sinais de gravidade, que é quando a doença complica e o caso merece ainda mais cuidado, olhar clínico crítico e atenção. De uma maneira geral, classificamos como PE grave quando do surgimento de picos hipertensivos (PA maior ou igual a 160 de sistólica e/ou 110 de diastólica), quando há sinais de iminência de eclâmpsia, quando evolui pra síndrome HELLP ou quando evolui pra própria eclâmpsia (convulsão), o fim da linha da doença, em questão de gravidade.

Nesses casos, a sintomatologia costuma ser mais evidente, porém traz consigo altíssimo risco para mãe e bebê. Os sintomas de iminência de eclâmpsia são: escotomas (alterações visuais típicas: pontinhos brilhantes no meio da visão – “estrelinhas”); dor abdominal superior (em barra, na topografia do estômago, podendo irradiar para as costas) e cefaléia frontal intensa. Se houver qualquer um desses sinais E diagnóstico de hipertensão, é necessário avisar à equipe e encaminhar-se imediatamente à maternidade/emergência.

O que é síndrome HELLP? A sigla diz respeito a uma desordem multissistêmica que cursa com hemólise, enzimas hepáticas elevadas e plaquetas baixas. Nesse caso, exame laboratorial poderá acusar bilirrubinas aumentadas, enzimas hepáticas elevadas, função renal alterada, LDH elevado e plaquetas baixas. A mulher pode sentir dor na altura do fígado (cuja cápsula pode estar distendida – o que dói bem), náuseas, vômitos e mal-estar. Hipertensão e proteinúria estão presentes em 85% dos casos. Dessa maneira, o controle por exame laboratorial de sangue é importantíssimo e mandatório, até no pós-parto. Complicações da HELLP, além das da pré-eclâmpsia: edema pulmonar, DPP, insuficiência renal aguda, descolamento de retina, hematoma subcapsular hepático e ruptura hepática. 

Caso os sinais de gravidade apareçam em qualquer momento da gestação, está indicada a interrupção e indução do parto, ainda que prematuramente, pois os riscos maternos superam os da prematuridade, especialmente após as 34s. Em caso de IG<34s, indica-se corticóide intramuscular (injeção) para amadurecimento do pulmão e posterior indução do parto. Caso os sinais apareçam enquanto o bebê ainda for prematuro extremo – ou seja, menor que 32 semanas – individualiza-se o caso, provavelmente com internação, estabilização, rigorosíssimo acompanhamento, monitorização contínua da pressão arterial, medicação anti-hipertensiva, hidratação adequada e controle laboratorial diário. A ideia é ganhar algumas semanas de desenvolvimento intrauterino e interromper assim que o bebê tiver alcançado um tempo de gestação tal que não seja mais tão arriscado seu nascimento. Interrupção da gestação na pré eclampsia grave sempre será uma balança, em que se pesam os riscos da prematuridade X os riscos maternos e fetais da evolução da doença.

Os riscos dessas complicações são seriíssimos e envolvem insuficiência placentária, RCIU, prematuridade, convulsão (eclâmpsia) , descolamento prematuro de placenta e óbito (materno e/ou fetal). Importantíssimo destacar, mais uma vez, que não há indicação de cesariana nesses casos, apenas de indução do parto normal. Só será indicação cirúrgica caso a mulher seja internada em estado muito grave (com pico hipertensivo, iminência de eclâmpsia, síndrome HELLP ou convulsionando) e as medicações venosas para controle da pressão não forem suficientes após algumas doses para estabilizar o quadro e ainda assim, após compensação materna adequada. Em caso de gravidade e dificuldade de compensação materna + prematuridade abaixo de 34s, também pode-se cogitar a cesariana, já que a indução nesses casos costuma prolongar-se muito e urge o nascimento para resolução da doença. 

Profilaxia

Recebi muitas perguntas a respeito da profilaxia que pode ser feita (com AAS), mas ela ainda não está tão bem estabelecida na literatura científica, principalmente no que se refere à escolha das candidatas ao remédio. Em geral, candidatas com alto risco gestacional para desenvolvimento de pré eclâmpsia seriam: história de gestação anterior com PE, HAS, gemelaridade, doença renal crônica, DM tipo 1 ou 2 e algumas doenças autoimunes como Lupus e SAAF. Ainda, existem alguns critérios de risco moderado, como história familiar materna de pré eclampsia, obesidade, nuliparidade e idade > 35 anos. Portanto, nesse sentido, vale a individualização caso a caso.

Para fechar essa série, quero fazer um alerta importante: as síndromes hipertensivas são a causa número 1 de morte materna no mundo. É um problema seríssimo e o simples fato de escrever a respeito dele me deixou preocupada e atenta para passar as melhores e mais importantes informações. Pressão alterada NÃO DEVE SER IGNORADA EM NENHUMA HIPÓTESE, não caiam em conversas do tipo “a pressão alterou por medo do médico” e afins. Todo cuidado é necessário e, volto a reforçar, um pré-natal cuidadoso e bem feito é fundamental, protege vidas e nos permite ter mais segurança em todas as decisões tomadas. Com hipertensão não se brinca.

Musa: @anacarolmss ♥️

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