As Síndromes Hipertensivas na gestação são temas amplos e extensos, sobre as quais eu já estava pra escrever há um tempo, tamanhas as dúvidas que recebo diariamente. São assuntos complexos e que requerem muita individualização para definição de conduta, mas, mesmo assim, vale a abordagem geral.
A primeira entidade que pode aparecer na gestação (que na realidade não se trata de doença da gravidez em si) é a Hipertensão Crônica (HAS); como sugere o próprio nome, prévia à gestação ou antes das 20 semanas. Algumas mulheres começam o pré-natal cientes dessa condição e já chegam devidamente acompanhadas e medicadas (quando necessário). Outras descobrirão justamente nesse comecinho, pois não frequentam médicos há anos e não tinham quaisquer suspeitas até então – e daí a importância da consulta pré concepcional e de um pré-natal iniciado precoce e adequadamente, dado que já se podem detectar anormalidades e se predizerem alguns riscos na primeira consulta, diminuindo riscos futuros. Ademais, a mulher deverá ser acompanhada em conjunto com o especialista (cardiologista), que solicitará exames complementares de rastreio de lesões de órgãos alvo (função renal, hepática, cardíaca etc). De qualquer maneira, a HAS não necessariamente requer tratamento medicamentoso na gestação. Isso porque fisiologicamente existe a tendência a um descenso natural da pressão arterial (PA) no primeiro trimestre, por vezes estendendo-se ao segundo. Sendo assim, nesse primeiro período, a pressão tende a manter-se controlada sem medicação em boa parte das hipertensas crônicas. Elas só precisarão de tratamento farmacológico caso a PA ultrapasse um valor de corte (150 sistólica e 100 diastólica, pela 7a diretriz brasileira de hipertensão arterial e 160×110 pelos consensos de GO) – do contrário, apenas acompanhamento amiúde e mudanças de estilo de vida, com alimentação adequada e atividade física, além de aferições domiciliares no mínimo 3x na semana. Caso haja sinais de gravidade e/ou de lesão de órgãos-alvo, o tratamento farmacológico também estará indicado.
A vigilância se dará ao longo de toda a gestação, já que a HAS é um dos principais fatores de risco para desenvolvimento de pré-eclâmpsia – entre 13 e 40%. O seguimento do bebê também se torna mais rigoroso, com mais ultras (para verificar adequado crescimento, líquido amniótico e doppler) e no terceiro trimestre, também será acompanhado com cardiotocografia.
Caso a gestante siga bem, sem sinais de gravidade associados e não desenvolva Pré-eclâmpsia superajuntada, está indicada a interrupção da gestação (indução do parto) entre 39 e 39+6 semanas. HAS NÃO É indicação de cesariana.
E no caso da Hipertensão Gestacional e Pré-eclâmpsia? Falarei nos próximos posts.