Antes de começar, achamos bom deixar claro que apesar da doença ter no nome ovários policísticos, não basta ter APENAS cistos nos ovários para ser diagnosticada com essa doença. Como o próprio nome diz: é um síndrome, logo engloba muito mais do que apenas cistos nos ovários. Ressaltamos, aliás, que existe um baita sobrediagnóstico dessa doença, ou seja, incontáveis mulheres recebem o diagnóstico de SOP e não fecham critérios pra síndrome, tendo apenas pequenos cistos em ambos os ovários, o que isoladamente não fecha diagnóstico.
SOP é uma desordem reprodutiva endocrinometabólica que data de 1935, de causa ainda não conhecida completamente, apesar de sabermos alguns mecanismos fisiopatológicos.
Presume-se que 8-18% das mulheres sejam acometidas.
Uma das teorias mais conhecidas seria a de um distúrbio do eixo hipotálamo-hipófise, resultando em niveis anormais de GnRH pelo hipotálamo e com isso aumento do LH.
Sabemos também que a resistência à insulina e obesidade são algumas das chaves para o desenvolvimento da síndrome.
SOP é definida na presença de pelo menos dois dos seguintes achados:
1. Anovulação/oligoamenorréia/irregularidade menstrual, traduzidas por 8 ciclos por ano ou menos;
2. Aumento de testosterona (hiperandrogenemia) ou sinais clínicos de aumento de testosterona (hiperandrogenismo): hirsutismo (aumento grosseiro de pelos, o mais comum), acne, alopecia androgênica (queda de cabelo), aumento de clitóris, etc;
3. Ovários policísticos à ultrassonografia (não basta ser qualquer cisto, existem critérios ultrassonográficos para tal). Lembrando que a priori faz-se necessário excluir causas que “imitam” a SOP como: distúrbios tireoidianos, hiperprolactinemia, hiperplasia adrenal congênita, síndrome de cushing, acromegalia e tumores virilizantes.
Pacientes sem tratamento apresentam risco aumentado de HAS, dislipidemia, câncer de endométrio , insuficiência coronariana, síndrome metabólica, dentre outros.
Seu tratamento deve ser de caráter MULTIDISCIPLINAR e consiste basicamente em mudanças do estilo de vida: reduzir o peso em pacientes com sobrepeso e obesidade, mudar drasticamente a dieta consumindo menos carboidratos refinados e farináceos (estratégia low carb como base) e praticar atividade física regular e constante.
Sobre o tratamento farmacológico, a pílula anticoncepcional é um dos mais usados em mulheres que não desejam engravidar e age tentando reequilibrar os ciclos menstruais. Não é mandatória e muitas mulheres voltam a ciclar e melhoram bem seus sintomas apenas com dieta e exercícios. Além disso, podem ser necessários antiandrogênicos como espironolactona e sensibilizadores de insulina como metformina, a depender do perfil metabólico da paciente.
Para mulheres que desejam engravidar, o clomifeno é muito utilizado, havendo também outras alternativas, até mesmo a FIV. Reforçamos que NENHUM tratamento farmacológico isolado será de fato eficaz na ausência da mudança de hábitos de vida e deve-se valorizar (e muito) o tratamento MULTIDISCIPLINAR da doença, envolvendo endocrinologista, ginecologista, nutricionista e profissional de educação física.
Texto da endocrinologista @endocrinodicas e da Ginecologista @biaherief