Saiba respeitar os limites da equipe

Tornou-se corriqueira a ideia, no imaginário popular, de que os profissionais de equipes humanizadas são aventureiros, de que “forçam o parto normal a qualquer custo” e de que passam por cima de toda e qualquer coisa só para fazer aquela mulher ter o bebê por via vaginal. Isso lhe parece fazer sentido? Imagino que não.

Primeiro porque estamos falando de seres humanos: o cansaço é real, tal qual o sono, o desgate, as dúvidas, as desconfianças e, infelizmente, os erros. Sim, o profissional da humanização (pasme!) também erra, como qualquer mortal da face da terra. A humanização é baseada em algumas premissas (já falei disso em post aqui), mas nenhuma delas versa sobre seres incansáveis e perfeitos. Existe o medo de errar, o receio de decepcionar e, às vezes, muitos se apequenam diante de um sistema enraizado e implacável, preparado para minar nossa atuação e desacreditar nossos valores. E nem sempre todos estão “evoluídos” o suficiente dentro de tudo que é a humanização.

E isso quer dizer que haverá quem não irá topar todos os desafios. Tem equipe que não topa parto pélvico, tem profissional que se sente inseguro diante de gestações muito complicadas, outros temem o parto após cesarianas de repetição (VBACs), outros tantos gestações prolongadas, gestações múltiplas, e por aí vai: já cansei de ver equipe preferindo não atender determinados casos – ou intervindo de maneira que EU não conduziria. Ainda, profissionais se protegendo, dando um passo atrás diante de algo que não se sentem seguros para assumir: existem muitos por aí e eu não os culpo. Nem todo mundo banca igual, o que não necessariamente significa que sejam “menos humanizados”.

Entendam que não estou aqui falando que tudo bem indicar cesárea por motivos fúteis ou usar questões pessoais como desculpa para enganar pacientes. Estou falando de profissionais verdadeiramente conscientes e, dentro dessa consciência, é preciso ser muito corajoso para estabelecer limites reais a respeito da própria atuação.⠀

Existem muitas equipes extremamente bem intencionadas e caminhando firme rumo à humanização, mas que ainda têm dúvidas, inseguranças, medos e limites. Elas progressivamente irão evoluir, melhorar, sentir-se-ão mais seguras com o tempo, com a troca, com a experiência. Significa que são picaretas cesaristas? Absolutamente! Significa que são humanizados em formação. ;)⠀

Se o profissional que te atende se posicionou colocando tais limites e você não gostou… repense. Entenda que esse posicionamento pode significar simplesmente que a equipe está colocando todas as cartas na mesa e sendo sincera com você, como todas deveriam fazer. E você é totalmente livre para buscar outras opiniões e profissionais que mais se adequem às suas expectativas.⠀

Não acho que mulheres e famílias devam ser “prejudicadas” por profissionais em formação, mas diante de um sistema tão forte e perverso, vale a união e apoio mútuos, além do entendimento de que cada um está trilhando seu caminho, em seu próprio tempo. Fora que a realidade de cada cidade é diferente e muitos podem sentir-se solitários nessa caminhada. A humanização deve servir para todos, afinal. Demo-nos as mãos. 

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