Se existe a possibilidade de planejar sua gestação antes mesmo de se começarem as tentativas de engravidar, o mais adequado a se fazer é buscar um profissional de saúde (obstetra, EO, parteira/midwife, médico de família) para uma consulta pré-concepcional. É o que fortemente recomendo para todas as mulheres que ainda não são tentantes e que não passaram por falhas de método contraceptivo, engravidando sem querer ou planejar.
Essa consulta visa basicamente a checar a saúde física e mental da mulher e rastrear alguns riscos, além de conhecer mais sobre seu histórico pessoal e obstétrico anteriores, história familiar, ciclo menstrual, hábitos de alimentação e de vida, atividades físicas realizadas ou não etc. Durante esse primeiro encontro, são imperiosos:
1️⃣ Exame fisico, se necessário;
2️⃣ Aferição da pressão arterial e, em caso de alteração, encaminhar para seguimento conjunto com cardiologista;
3️⃣ Verificação de peso pré-gestacional e hábitos de vida, na tentativa de adequá-los ao máximo antes da gestação, bem como incentivar perda ponderal se sobrepeso ou obesidade, dados os maiores riscos gestacionais;
4️⃣ Coleta de preventivo (papanicolau), se oportuno (lembrando que, para mulheres acima de 25 anos e duas coletas anuais consecutivas normais, a periodicidade é trienal, de acordo com o MS);
5️⃣ Solicitação de exames laboratoriais – a depender de quando foi o último realizado, solicitam-se: hemograma completo, tipagem sanguínea, bioquímica, sorologias, perfil glicêmico, e função tireoidiana. Vale ressaltar que não existe a menor indicação ou razoabilidade de se solicitar aquela lista gigantesca de exames que te fazem perder metade da volemia, saber o que significa 90% deles e muito menos prescrever uma penca de manipulados que te fazem gastar um rim e não servem pra mais nada além disso. O bom médico é o que pergunta/ouve mais e solicita/medica menos. Entendam isso!
6️⃣ Prescrição de ácido fólico ou metilfolato 400mcg/dia, que deve ser mantido até as 12s de gestação;
7️⃣ Conhecimento do status vacinal da mulher (cartão de vacinação) e incentivo a completá-lo, caso alguma vacina não esteja em dia (sarampo, gripe, hepatite b, etc).
8️⃣ Não menos importante, avaliação da saúde mental da mulher e encaminhamento a profissionais afins (psicólogo e psiquiatra) se preciso for, insistindo que ela também importa (e muito).
Quanto mais saudável estiver a mulher, maiores as chances dela engravidar logo e manter uma gestação de risco habitual até o final sem complicações e, por conseguinte, menores as chances de intervenções no parto. Nessa consulta, estimulo que se mantenham hábitos de vida saudáveis e adequados, como construir uma alimentação equilibrada, prática regular de exercícios físicos de escolha da mulher, desencorajar tabagismo e etilismo em demasia e tratamento adequado com equipe multidisciplinar, desde já, caso detectada alguma condição ou doença pré-existente. Prevenção e promoção de saúde são as chaves desse momento.
A consulta pré-concepcional também é um excelente momento para explicar como funciona a equipe de atendimento à gestação e parto e, claro, começar a conversar sobre ele. Entender as expectativas da mulher e alinhá-la (ou não!) com a filosofia daquela equipe é fundamental desde sempre, para que a segurança e o início da construção do vínculo permeiem a relação que ali se inicia. Também é um ótimo momento para indicações de materiais de leitura sobre esse mundo novo que começa a ser descoberto agora.