Imagine a cena: mulher grávida fazendo compras tranquilamente, até que a bolsa rompe. Todos em volta se desesperam, ela começa do nada a sentir muita dor e alguma alma boa chama um táxi para ajudar. O motorista, assustadíssimo, corre para o hospital furando todos os sinais vermelhos. No carro, ela urra de dor e tudo indica que o bebê nascerá ali mesmo, mas a destreza (ou loucura) do taxista a salva disso. Finalmente, ela chega na maternidade onde é salva pelos médicos que fazem rapidamente seu parto e o bebê nasce, poucos minutos depois.
Imaginou? Pois esqueça, essa cena pertence a novelas e filmes, e tão só.
A vida real não é assim e o fato de termos visto mais filmes e novelas do que gestantes de verdade em trabalho de parto só fez piorar esse imaginário coletivo. A chegada de um bebê não é como uma bomba-relógio prestes a explodir, partos não costumam evoluir em pouquíssimos minutos, mulheres não precisam ser salvas e médicos não “fazem” partos. Por toda essa desconexão com a realidade, tantas outras creem, por outro lado, que partos são longos (e sofriiiidos) demais, familiares acreditam que nascimentos que “demoram muito” precisam de solução e que partos a jato são vistos como o normal e único caminho possível; do contrário, são tidos como anormais e que demandam intervenção cirúrgica breve.
Até poucos anos, o modelo de partograma utilizado para acompanhar a evolução do parto indicava como normal o avanço de um centímetro de dilatação por hora (durante a fase ativa). Isso trazia uma falsa projeção de quanto tempo o parto duraria e tal modelo caiu em desuso: hoje, qualquer parâmetro que existia de duração “normal” de um parto caiu por terra. Não se é possível prever quanto tempo o parto irá durar e, mais que isso, a sua duração não quer dizer muita coisa a respeito da saúde do binômio.
Quando bem assistidos e monitorados, partos duram o tempo que precisarem durar. Cada bebê precisa de um tempo, cada mulher vive um processo – ainda que seja a mesma mulher em diferentes gestações. Cada história é única. O ideal é não criar expectativas e não projetar seu parto em vivências alheias.
E, ainda, partos a jato não são necessariamente melhores; eles tendem a ser mais dolorosos, mais intensos, processos mais intempestivos. Partos mais longos, por outro lado, podem ser mais tranquilos e suaves, embora provavelmente mais cansativos e desafiadores. Ou não. Não dá pra dizer. Desde que esteja tudo bem, vale muito vivenciar o processo e confiar no saber fisiológico ancestral do seu corpo e do seu filho.
Vai demorar o tempo que precisar.