Quando começar a investigar o abortamento de repetição?

Antes de falar sobre abortamentos espontâneos de repetição, não posso deixar de lembrar que, por definição, abortamento é a perda gestacional que acontece até 20 semanas ou cujo feto tenha até 500 gramas (mais semanas ou peso já configura morte fetal). Esse é um dos assuntos mais difíceis de lidar durante uma gestação e, infelizmente, também um dos mais comuns. Fato é que até 25 a 30% de todas as gravidezes serão interrompidas por abortamento espontâneo, sem que haja muito o que se possa fazer para frear o processo.

Embora muito triste, não é necessário investigar todas as perdas gestacionais. Apenas quando a mulher perde três gestações consecutivas ou duas ou mais perdas gestacionais documentadas é que estaria a investigação aprofundada no caso. Essa conduta pode ser individualizada, se a mulher tiver o desejo e a possibilidade a partir da segunda perda, ainda que a indicação formal indique apenas após a terceira. É uma decisão conjunta, portanto.

E o que é investigado?

➡️ Tireóide – alterações endócrinas, no geral, podem ser a causa. Tanto disfunções da tireóide como também alterações hormonais (como o da prolactina, que altera a maturação endometrial) devem ser investigadas

➡️ Glicemia – resistências insulínicas ou diabetes descontroladas podem aumentar o risco de abortamento espontâneo

➡️ Trombofilias – podem causar a obstrução dos vasos da placenta, resultando em abortos de repetição

➡️ Insuficiência istmo cervical (IIC) – o histórico anterior pode gerar abortos tardios ou partos prematuros

É importante, de qualquer maneira, lembrar que muito embora a investigação possa ajudar a mulher e ter novas gestacoes saudáveis e com desfecho positivo, as causas que levam ao aborto de repetição podem ser diversas e indefinidas. Cerca de 20% dos abortamentos de repetição não terão uma explicação ou causa segura. As famílias que passam por esses eventos se preocupam muito com a definição de uma causa, de maneira que se possa prevenir uma nova ocorrência. Infelizmente não será em todos os casos que isso será possível.

Recomendo bom acompanhamento médico e terapêutico, para lidar com tamanho desafio e entender que não é culpa da mulher ou do entorno.

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