Qual é a periodicidade de coleta do Preventivo?

Vamos entender direitinho qual é a periodicidade recomendada no Brasil de coleta do Preventivo?

Embora a resposta seja bastante simples, recebo com frequência essa dúvida e assim julguei válido um post para registrar.

Mas, primeiro, o que é o “Preventivo”?

Trata-se da Citologia Oncótica (termo médico) ou do famoso Papanicolau, exame de rastreio para câncer de colo de útero. Serve para detectar precocemente lesões pré-cancerígenas pelo vírus HPV, cuja infecção crônica está intimamente relacionada ao aumento de risco de desenvolvimento de câncer de colo do útero. O preparo para o exame consiste em realizá-lo preferencialmente fora do período menstrual e evitar relações sexuais 48-72 horas antes. A coleta é tecnicamente bem simples, realizada em consultório, não invasiva, não costuma doer e nem causar maiores incômodos. Caso o resultado identifique alguma lesão pré-oncótica (ou suspeita), o profissional indicará repeti-lo em 6 meses ou encaminhar diretamente para colposcopia (com especialista em patologia cervical), a depender da lesão.

Fundamental saber que, caso o resultado aponte lesão, em geral NÃO SIGNIFICA que a mulher tem câncer! A importância do rastreio é justamente a prevenção da doença – e vem daí seu apelido carinhoso (e óbvio): “preventivo”.

Vale também entender que lesões pré-malignas usualmente demoram aaaanos (por vezes, mais de década) para evoluir de fato para o câncer de colo de útero propriamente dito – e daí a justificativa para a periodicidade recomendada, já que evidências não suportam qualquer benefício e diminuição de mortalidade em se rastreando com periodicidade menor.

Agora sim, à periodicidade:

Segundo o Ministério da Saúde, o Papanicolau deve ser realizado em pessoas com vagina com mais de 25 anos de idade e que já tenham iniciado atividade sexual, sendo as duas primeiras coletas realizadas com intervalo de um ano entre elas. Depois disso, caso não haja resultados alterados, os próximos exames podem ser coletados a cada 3 anos. O rastreio deve seguir por toda a vida da pessoa até os 64 anos de idade. Caso haja algum exame alterado nesse período, a periodicidade deve ser rediscutida, individualizando-se o caso.

Rastrear meninas ou mulheres jovens abaixo de 25 anos, além de não mostrar benefícios de proteção a mais, pode aumentar em muito o risco de intervenções e até mesmo cirurgias totalmente desnecessárias, já que é bem comum se identificarem lesões citopáticas pelo vírus HPV que muito provavelmente se resolveriam espontaneamente até os 25 anos de idade – nessa idade, não raro as lesões causadas pelo HPV sofrem o que chamamos de Clearence ou eliminação espontânea. Quando tais lesões são identificadas nessas mulheres (comumente sobrediagnosticadas – o tal do “overdiagnosis”), levam com frequência a procedimentos invasivos ou cirúrgicos desnecessários que aumentam riscos para gestações futuras, como incompetência istmo-cervical e prematuridade. Fora ansiedade, preocupação e angústia para a mulher que recebe o diagnóstico – e isso também muito importa!

Em resumo e português claro: sem indicação específica, não existe justificativa para se coletar preventivo anualmente – e muito menos de 6/6 meses (a não ser ganhar $ em cima disso né?).

Com colaboração da oncologista @nccnunes ♥️

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