Quais exames fazer neste momento de crise?

Quais exames devo fazer neste momento de crise?

Pergunta frequente nos stories do meu Instagram, na última semana. Trata-se, no entanto, de avaliação e decisão absolutamente subjetivas (e por vezes pessoais), que devem ser consideradas a depender do risco gestacional (se alto ou habitual) e em que momento da gestação a mulher se encontra. No geral, recomendo adiar os exames até onde der, pois o momento é de máximo isolamento social – e não sabemos até quando. Porém, em alguns casos, isso não será possível. Relaciono abaixo os principais exames da gestação:

1º trimestre

– Ultrassom:

Pra quem está no comecinho, serve para que se realize a correta datação da gestação, em comparação com a DUM.

É fundamental? Não

Posso adiar? Caso queira fazê-la, só vale adiar dentro do 1º trimestre, depois disso a datação já não será tão fidedigna e aí vale mais a pena já partir pra TN, a próxima USG (falo abaixo);

– Exame de sangue/rotina laboratorial do 1º tri: importante para diagnosticar diabetes pré-gestacional ou gestacional, anemia, hipotireoidismo, sorologia positiva anterior etc.

É fundamental? Sim

Posso adiar? Sim, mas dentro do 1º trimestre. Caso você esteja, por exemplo, com apenas 5 semanas, é possível esperar pelo menos mais um mês para colher esse exame.

– Morfológica de 1º trimestre (osso nasal, translucência nucal e ducto venoso): serve para rastreio de cromossomopatias e não é diagnóstico fechado, apenas indica risco maior para o bebê de apresentar alguma síndrome genética.

É fundamental? Depende, essa informação vai mudar algo para você? Você manterá a gestação? Decidirá prosseguir investigação ou não? Agirá diferente caso alterada (lembrando que no Brasil o aborto não é legal)? Posso adiar? Caso decida fazer, pode adiar apenas no intervalo previsto para este exame (entre 11 e 14 semanas).

2º trimestre

– Exame de sangue/rotina laboratorial do 2º tri: repete os exames de 1º trimestre e também inclui o TOTG, que é o rastreio de diabetes gestacional (tem post!).

É fundamental? Sim

Posso adiar? Pode, dentro da janela de idade gestacional prevista pro exame. Caso possa escolher, colete-a entre 24-28 semanas, para fazer o TOTG na mesma ocasião. 

– Morfológica de 2º trimestre: deve ser feita entre 20 e 24 semanas. É uma avaliação pormenorizada da anatomia fetal e de marcadores para doenças genéticas, além da biometria fetal complementar e descrição detalhada de toda morfologia fetal, em busca de malformações e sinais de problemas no desenvolvimento do bebê.

Segundo o Ministério da Saúde, caso haja apenas uma oportunidade de realizar ultrassom, esse deve ser o escolhido.

É fundamental? Sim, dentre as ultras da gravidez, é a mais importante.

Posso adiar? Sim, mas apenas no intervalo indicado para o exame (20-24 semanas)

3º trimestre

– Ecocardiograma fetal: não é rotina para todas as grávidas, segundo o Ministério da Saúde e tampouco é indispensável, mas eu recomendo a quem puder fazer, que faça. Trata-se de uma avaliação ultrassonográfica morfológica e funcional minuciosa apenas do coração do bebê (mas se o morfológico do 2º tri foi bem feito e confiável, pode ser dispensado).

É fundamental? Não.

Posso adiar? Pode, até as 29 semanas.

– Ultrassom com ou sem doppler de 3º trimestre: comumente pedida nessa etapa da gravidez. Não tem indicação formal, ou seja, não é necessária em gestações de risco habitual, sem indicação específica.

É fundamental? Não.

Posso adiar? Pode inclusive não fazer.

– Exame de sangue/rotina laboratorial do 3º tri: solicitado aproximadamente entre 36 e 37 semanas, serve para rever os exames anteriores, checar se vale suplementação de ferro nessa reta final e confirmar sorologias negativas para o parto e a amamentação. Pode ser feito quando da entrada na maternidade para o parto em si.

É fundamental? Sim, principalmente se o rastreio do segundo trimestre não tiver sido feito.

Posso adiar? Sim, dá até pra esperar e coletar durante o trabalho de parto, quando da internação. 

Quem pode tomar essas decisões, sobre qual exame fazer ou não, neste contexto de isolamento e crise? Caso sua gestação seja de risco habitual, você decidirá, com as informações passadas pelo pré-natalista. Precisamos nos habituar a chamar pra nós a responsabilidade, sem transferi-la para um terceiro e sem infantilizações desnecessárias. Avaliar riscos e benefícios também é um exercício a ser feito pela gestante e sua família, a fim de tomar suas próprias decisões, lembrando da corresponsabilidade e protagonismo em que a humanização do atendimento se baseia.

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