Não, claro que não. Mas como toda medicação, seu uso deve ser criterioso. Parece óbvio, mas é importante lembrar que por mais comumente utilizada, a pílula ainda é um remédio, com seus efeitos colaterais e riscos associados.
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Esses riscos, aliás, foram os responsáveis pela demonização recente das pílulas. Começou com a rápida propagação, via internet, de que o medicamento aumentaria o risco de trombose em várias partes do corpo, inclusive com relatos de AVC e embolia em mulheres jovens. Isso não deixa de ser verdade, mas acontece em geral com o uso de pílulas combinadas – que têm estrogênio na composição. Esse risco, no entanto, é calculado comparando usuárias de pílula com a população em geral. O que vale destacar é que o risco absoluto ainda é baixo (embora aumentado nesse caso). Traduzindo: não é frequente que mulheres jovens usuárias de pílula desenvolvam trombose/AVC/embolia. O mesmo foi constatado em um estudo publicado no ano passado na Inglaterra, que relacionava maior incidência de câncer de mama em mulheres que faziam uso de hormônios como contraceptivo – aqui todos os tipos de contraceptivo hormonal entraram, tais como pílulas (combinadas ou não), anéis vaginais, injeções, adesivos e Mirena. Porém, mais uma vez, o risco absoluto também foi baixo.
Também tem um ponto pouco divulgado: dentre as usuárias de pílula que densevolvem eventos tromboembólicos, há vários casos de mulheres que já possuem fatores de risco para tal: aquelas com histórico familiar importante ou mulheres que já possuem algum tipo de trombofilia desconhecida.
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E agora? Deve-se rastrear toda a população feminina para determinar fatores de risco?
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Não!
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Idealmente, o uso de métodos contraceptivos hormonais deveria ser prescrição INDIVIDUALIZADA: após consulta, anamnese e exame físico, definindo-se qual método melhor se adequaria à realidade e à vontade daquela mulher, em conjunto com ela (decisão compartilhada). A opção por pílulas e outros métodos hormonais seria mais restrita às mulheres com indicação de TRATAMENTO hormonal, normalmente as portadoras de doenças ginecológicas benignas, como sangramento uterino anormal, mioma, endometriose profunda, adenomiose, SOP (se anovulação), etc.
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No geral, o ideal é dar preferência a métodos não-hormonais caso a mulher não tenha indicação precisa para tal, principalmente se for elegível para DIU (sem fluxo menstrual aumentado, sem cólicas exageradas em todos os ciclos) – principalmente por ser um método de longa duração, bem acessível e independente do uso adequado da usuária – o que é bem preferível para uma boa parcela da população.
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Em síntese, eh inadmissível demonizar por completo um método ou outro, seja ele hormonal ou não, uma vez que uma parcela das mulheres vai precisar de tratamento e outras tantas irão PREFERIR esse método contraceptivo, apesar dos seus riscos. Batemos na tecla da escolha informada e da decisão compartilhada, sempre.