“Parto humanizado é elitista”

Tal qual ele é hoje, no Brasil, é mesmo. Poucas são as famílias que conseguem arcar com os custos de uma assistência particular humanizada e, na verdade, a simples existência de uma equipe humanizada já é rara no Brasil – elas existem em capitais ou grandes cidades, mas na realidade geral do país mesmo… não tem. Em muitos lugares, não existe para onde correr e a esmagadora maioria das mulheres não tem condições de pagar por nada.

É por isso que defendo três coisas que considero fundamentais para a questão do parto no Brasil. Elas estão em andamento e a realidade já é bem melhor do que há alguns anos, mas ainda precisamos muito de:

1️. SUS: um sistema único, forte, e realmente UNIVERSAL, que contemple todas as mulheres, que informe, que acolha seus desejos para o parto. Que tenha profissionais constantemente atualizados e boas práticas de atenção ao nascimento. Só com acesso amplo e irrestrito à saúde de maneira digna é possível humanizar a assistência. Urge aparelhar e capacitar o SUS.

2️. Enfermagem Obstétrica na linha de frente: é preciso mudar o raciocínio brasileiro centrado no médico. Em UM médico. A atuação da Enfermeira Obstétrica, não só no SUS, mas também na rede particular (isso, estou falando da maternidade do plano!) é FUNDAMENTAL. O parto de risco habitual pode e deve ser atendido integralmente por essa profissional, que é formada para a assistência ao nascimento e absorve essa demanda de maneira melhor e mais eficiente que o próprio médico (tem estudo científico provando isso, não é opinião minha). É mais inteligente, tem melhores resultados, onera menos o sistema. Pra isso, se faz necessário bem remunerar a profissional também né?

3️. Desapego com um único profissional: muito relacionado com o item anterior. Em diversos países pelo mundo, principalmente naqueles em que o sistema obstétrico funciona de verdade (com excelentes marcadores perinatais), não tem essa de pré-natal e parto com um profissional exclusivo. O pré-natal é feito com profissional apto (EO, obstetriz ou midwifes pro risco habitual e médico para o alto risco) e o parto é com o plantonista. Profissional de pré-natal não necessariamente precisaria ser o mesmo do parto. Eu sei que o apego e o acolhimento são importantes e ajudam, mas no que diz respeito às políticas públicas de atenção ao parto, não funciona ser uma equipe só, é muito caro e não é a resposta que precisamos.

Hoje, parir de forma digna nesse país é elitista (e racista) SIM! É luxo, é fora da realidade e é para bem poucas. E você, que tá aqui, ainda tem acesso à informação, pra tentar conseguir o melhor pro cenário que você tem. E quem nem isso tem? Fica a reflexão.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

plugins premium WordPress