O que fazer caso o bebê esteja pélvico (sentado)?

Falo com frequência sobre esse assunto e sobre o próprio parto pélvico, principalmente nos stories, mas faltava abordar mais especificamente a Versão Cefálica Externa (VCE). Trata-se de uma manobra manual, realizada por um médico obstetra, que objetiva a virar o bebê e pode ser oferecida à gestante conforme ela for chegando às 36 semanas de gestação, caso a própria versão espontânea do bebê ainda não tiver acontecido. Antes de tentar a versão externa, são mais do que recomendados outros recursos para estimular a cambalhota, tais como acupuntura, exercícios, posturas, moxa etc. – e aqui cabe bastante dedicação, disposição e perseverança maternas, tá?

A versão cefálica externa é uma decisão totalmente eletiva, não obrigatória e individualizada a ser tomada pela família em conjunto com a equipe. Deve ser baseada nos riscos e benefícios de se tentar o procedimento em detrimento dos riscos de um parto pélvico ou de uma cesariana em trabalho de parto (caso a equipe assistente não esteja apta para atender o parto pélvico ou a mulher opte por essa via). Dentre o que é mandatório saber antes de tentar a VCE: a recomendação geral e as melhores evidências apontam para a realização entre 36 e 38 semanas. Não é necessariamente proibitivo fazer antes ou depois, mas em se colocando na balança as chances de dar certo versus a minimização de riscos, esse intervalo se mostra mais razoável, sempre cabendo individualização. O sucesso do procedimento varia conforme a experiência do profissional e sua técnica e, na melhor das estatísticas, chega a 60%. Trocando em miúdos: há grandes chances da manobra não dar certo e o bebê não virar.

Antes de tentar a VCE, também é necessário saber que existem características maternas e fetais que podem impactar diretamente na taxa de sucesso, dentre elas: idade gestacional, peso fetal, obesidade materna, quantidade de liquido amniótico, posição do bebê, posição da placenta (placentas anteriores tem menor taxa de sucesso), espaço dentro do útero para que o bebê gire, presença de uma ou mais circulares de cordão, bebê já está insinuado e baixo na pelve, tensões musculares da parede abdominal da mulher e nos ligamentos pélvicos e uterinos, presença de miomas ou mal formações uterinas.

A manobra em si é tranquila, rápida e não deve causar dor (embora possa ser sim bastante incômoda) e por isso não se indica anestesia de rotina. Deve ser feita preferencialmente em ambiente hospitalar – para que acesse uma cesariana, caso necessário – ou muito perto do hospital. Idealmente, faz-se uma cardiotocografia antes (ou longa e atenta ausculta, se ctg indisponível) que garanta boa vitalidade do bebê antes e depois do procedimento, sendo bem-sucedido ou não. Também é válido um ultrassom antes para checar líquido e vitalidade e após para confirmar posição do bebê.

Caso a primeira VCE não seja bem sucedida, a depender da avalição do procedimento e vontade da gestante, oferece-se uma nova tentativa, até uma semana depois. Entretanto, recomenda-se nova rodada de exercícios, acupuntura e demais técnicas para facilitar a virada antes da segunda tentativa, inclusive liberação miofascial.

Os riscos adversos, numa estatística global, giram em torno de 6% dos casos e incluem sangramento vaginal, rotura de membranas e alterações transitórias da frequência cardíaca fetal, mas complicações graves ocorrem em bem menos de 1% dos casos e podem incluir descolamento de placenta, bradicardia fetal mantida (demandando cesariana de urgência) e prematuridade (caso a VCE seja feita antes do termo).

Ademais, ainda que bem-sucedida a versão, estão também descritos: aumento de chance de parto distócico por bebê mal posicionado (e por isso insisto tanto em se manterem os exercícios e posturas até o final!) e possibilidade de frequência cardíaca fetal não tranquilizadora durante o próprio trabalho de parto, com mais chances de cesariana.

Minha opinião profissional (e bem geral, sem pensar em casos específicos) é: a versão cefálica externa vale muito a pena! Os riscos são muito pequenos em comparação com os riscos de um parto pélvico (principalmente nesse país) ou com a cesariana intraparto. É claro que, dadas as especificidades do procedimento, a recomendação é que cada caso seja avaliado e que a decisão seja tomada de comum acordo com gestante e família, sempre.

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