Sofrimento fetal é o nome que se dá à anoxia fetal, ou seja, à diminuição do aporte de oxigênio para o bebê, em algum momento, de maneira aguda ou crônica. É mais comum durante o trabalho de parto, embora também possa acontecer antes, em geral relacionado à alguma patologia/condição materna.
Em se diagnosticando precocemente o quadro e intervindo oportunamente, é provável que o bebê se recupere rápido e evolua sem sequelas. Por outro lado, se o tempo de anóxia for prolongado, aumentam os riscos de sequelas (reversíveis ou não), danos neurológicos e/ou em outros órgãos e sistemas, além do risco de óbito.
Antes que você se apavore (e o post não é pra isso), vale saber que sofrimento fetal NÃO é comum e que a esmagadora maioria dos casos é evitável, a começar através de um criterioso pré-natal, com boa predição de risco e tratamento oportuno das condições maternas e fetais que mais comumente levariam a essa condição. Um bom rastreio pré-natal e adequado seguimento do binômio são, portanto, fundamentais.
No caso de sofrimento fetal agudo, que se manifesta mais usualmente durante o trabalho de parto, a chave para diagnóstico e intervenção precoces é a ausculta fetal intermitente desde o início da fase ativa. Isso significa que a gestante em trabalho de parto ativo deve estar assistida por profissional de saúde, seja ele EO na assistência pré hospitalar/hospitalar, equipe de parto domiciliar presente ou ainda por médico obstetra/EO quando da internação, em caso de assistência pelo plantão de maternidade particular (do plano) ou SUS. A assistência adequada ao parto pode prevenir e resolver rapidamente casos de sofrimento fetal agudo.
Em caso de suspeita de diminuição da vitalidade fetal (FCF não tranquilizadora), a resolução se dá por abreviação imediata do parto, em se comprovando risco iminente à saúde do bebê, seja através de parto instrumental (com uso de fórceps ou kiwi) ou de cesariana, a depender do caso e da fase do trabalho de parto.
Além da resolução imediata, é fundamental a presença de um bom pediatra em sala de parto ou de uma EO/parteira treinada em cuidados neonatais (em caso de parto domiciliar), para que as manobras de reanimação neonatal não tardem e sejam iniciadas precocemente, aumentando as chances de sobrevida e reduzindo riscos de sequelas neurológicas e de outros órgãos e sistemas.
Ainda que todo o entorno seja planejado com segurança, com pré-natal adequado, assistência ao parto vigilante e profissionais de saúde prontos para atuar quando necessário, o sofrimento fetal ainda pode acontecer (em menos de 1% das gestações de risco habitual) – e sabemos que medicina não é ciência exata, totalmente controlável. Resta-nos fazer o que é possível, que é garantir uma assistência adequada, segura e baseada em evidências científicas que, em geral, é o suficiente para reduzir a incidência de maus desfechos.
Ahhhh, vale pontuar, porque nunca é demais:
1️⃣ Vaginas não são assassinas e, ao contrário do que dizem por aí, não causam asfixia em bebês saudáveis que ali permanecem por um tempo (expulsivo) – fetos são oxigenados pelo cordão, lembra? A chave segue sendo a ausculta;
2️⃣ Quando intervimos de maneira oportuna, é possível que o bebê com suspeita de sofrimento nasça bem, o que significa que não necessariamente bebês com vitalidade duvidosa irão nascer mal. Portanto, se você achava que seu bebê estava em sofrimento e nasceu “muito mal”, porém chorando e gritando, com apgar excelente, entenda que nasceu bem por intervenção oportuna (e que o risco é que tivesse nascido com pouca vitalidade)
3️⃣ Aguardar o tempo do bebe não é “forçar o parto normal”, mas intervir sobremaneira desnecessariamente, SIM (o que pode de fato aumentar riscos de maus desfechos) – o tal parto natural costuma ser mais seguro, lembra?