O aborto no início da gravidez

O abortamento é considerado para todas as gravidezes até 20 semanas ou cujo feto tenha até 500 gramas (mais semanas ou peso já configura morte fetal). Esse é um dos assuntos mais difíceis de lidar durante uma gestação e, infelizmente, também um dos mais comuns. Fato é que cerca de 25 a 30% de todas as gravidezes serão interrompidas por abortamento espontâneo, sem que haja muito o que se possa fazer para frear o processo.

E aí logo de cara já tocamos em um tabu que envolve o assunto: não há evidências científicas de que se possa fazer algo para frear um aborto em curso, ou seja, uma gravidez inviável não tem como ser “salva”:


– Progesterona
– Repouso absoluto
– Suspensão das atividades físicas
– Abstinência sexual

Não há evidências sólidas de que alguma das condutas acima seria capaz de evitar ou parar o aborto. Muitas mulheres (e também profissionais de saúde) se sentem culpadas de “não fazer nada” para salvar aquela gestação e preferem tomar alguma (ou todas) atitude como as relacionadas. Mas é importante saber que, embora psicologicamente compreensíveis, tais condutas não irão mudar o desfecho para aquela gravidez.

E isso vale para quase todas as situações pelas quais uma gestante de início de gravidez passa, como hematomas retrocoriônicos, sangramentos leves a moderados ou coágulos. A progesterona, por exemplo, é frequentemente indicada para esses casos, mas, de novo: sem evidências sólidas. Na realidade, a suplementação desse hormônio está indicada para pouquíssimos casos, como colos curtos ou manutenção de gestação iniciada por FIV (fertilização in vitro).

A questão da culpa permeia a cabeça das mulheres que passam por essa situação.

Muitas entendem que um estresse em casa, um leve trauma (quedas ou impactos leves na região abdominal), uma atividade diferente do comum ou até mesmo a alimentação (com canela, gengibre e outras ervas) foram capazes de provocar o abortamento pelo qual ela está passando. Isso não é verdade. A não ser que a gestante tenha passado por um grave acidente ou trauma sério, o aborto NÃO É CULPA DELA (ou do entorno). Ora, se já sabemos que o aborto espontâneo é inevitável e que não há nada para remediá-lo, quando se deve procurar ajuda em pronto atendimento?

Ir ao hospital é importante quando o abortamento já está em curso, causa muita dor e a hemorragia é grave. Não é necessário sair correndo pra emergência do hospital em caso de pequenos sangramentos ou leves cólicas, já que – como já falamos – nada poderá ser feito para frear o aborto, caso ele realmente venha a acontecer. Lembrando que cólicas e leves sangramentos são extremamente comuns no primeiro trimestre.

O ultrassom, que normalmente acalma e agrada muitas gestantes, também não está indicado, já que sua realização não tem como alterar o desfecho do caso. A medição do colo do útero também não precisa ser feita em todas as gestantes, embora alguns ultrassonografistas meçam rotineiramente. Não é prejudicial, mas é muito mais significativo para mulheres com algum tipo de histórico de encurtamento de colo ou se já possuem histórico de perda por insuficiência istmo-cervical, abortos tardios súbitos ou que já fizeram alguma cirurgia que encurte o colo (retirada de alguma parte ou totalidade do colo por lesão ou câncer).

Recomenda-se iniciar investigações mais profundas sobre a fertilidade da mulher após 3 abortos espontâneos, mas entendemos que essa conduta possa ser individualizada. Se a mulher tem o desejo e a possibilidade, pode-se começar a investigar após o segundo aborto, mesmo sendo a indicação formal apenas depois da terceira perda.

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