Insisto muito no cuidado com a alimentação e com a saúde em geral para as gestantes. Constantemente alerto sobre os benefícios jogados fora ao não se praticarem exercícios e sobre problemas relacionados ao consumo de ultraprocessados, açúcares e farinhas, o que pode potencializar riscos não só para a gestação, mas para toda a vida futura. Uma rotina saudável desde o período pré-concepcional é fundamental e especialmente importante no momento da gravidez, ajudando a prevenir diabetes gestacional, pré-eclâmpsia, macrossomia fetal, distócia de ombro e, indiretamente, cesariana.
Mas daí a achar que mulheres com sobrepeso ou mesmo obesas graves não podem parir é tão absurdo, que não sei nem por onde começar. Mulheres gordas têm o mesmo útero, a mesma pelve óssea, o mesmo canal vaginal e o mesmo períneo que mulheres magras, altas, baixas, brancas, pretas. Todas podem parir igual. Cesarianas são muito mais seguras quando bem indicadas e obesidade NÃO é indicação para tal – pelo contrário, é fator de risco importante para múltiplas complicações, tanto no intra quanto no pós-operatório.
Para mulheres acima do peso, o ideal é justamente que tenham partos normais, sabidamente mais seguros para elas e seus bebês. Uma cesariana sem indicação pode trazer ainda mais riscos, dentre eles: maior dificuldade técnica (anestésica e cirúrgica), maior tempo de cirurgia, dificuldade de extração fetal, maiores perdas sanguíneas, mais chance de lesões de órgãos adjacentes ao útero e maior risco de eventos tromboembólicos, infecções (tanto de ferida operatória quanto de cavidade uterina e pélvica), seroma e deiscência de sutura (ferida abrir).
Quando propomos que gestantes prezem por um peso adequado e pela manutenção de uma vida mais saudável possível, baseamo-nos em cuidado e prevenção de riscos – e tal cuidado é baseado em evidências, não em achismos, não em tutela de mulheres ou em uma padronização cruel que nos reduz, nos limita, nos aprisiona. No momento do parto, o que uma mulher gorda precisa é de respeito, segurança, acolhimento, acompanhamento adequado e a chance de parir segura e naturalmente, tendo seu corpo respeitado e honrado, como qualquer mulher.
