Antes de começar, quero fazer alguns disclaimers:
– Tudo que for dito aqui serve para mulheres que tiveram UMA ou DUAS cesarianas anteriores e que, por algum motivo obstétrico real, precisam induzir o parto na gestação atual;
– Não existem dados de segurança a respeito de três ou mais cesarianas prévias. Nesses casos, o parto normal é possível, mas os riscos e benefícios tanto do parto quanto de uma indução devem ser minuciosamente discutidos entre o assistente e a gestante, em decisão compartilhada, em comparação com os riscos conhecidos de cesarianas de repetição;
– A indução do parto é uma intervenção médica e, tal qual, possui riscos associados, como taquissistolia, (hiperestimulação uterina, que pode levar a sofrimento fetal), maior risco de hemorragia pós-parto, mais chance de distócia, dentre outros.
Portanto, qualquer decisão de induzir o parto deve ter indicação obstétrica precisa e o risco de se aguardar mais tempo deve superar o risco inerente à intervenção. Sempre que for possível esperar a deflagração espontânea do processo, certamente será deveras mais seguro e racional.
Uma mulher com cesariana prévia PODE SIM ter seu parto farmacologicamente induzido, mas, neste caso, está contraindicado o uso de prostaglandina para amadurecimento do colo – pelo menos por enquanto – mas a ocitocina em bomba infusora pode ser usada e explico detalhadamente abaixo.
Para amadurecimento do colo, a opção existente é a sonda (Método de Krause), com balão que prepara mecanicamente o colo do útero (tem post minucioso disso aqui!). A depender do motivo pelo qual estamos induzindo – se não for uma urgência e a mulher não demandar vigilância intrahospitalar, a sonda pode ser inserida em consultório, podendo-se aguardar 24 horas para internação hospitalar e seguimento da indução com ocitocina, depois da eliminação do balão ou em conjunto com ele. Assim, é possível inserir a sonda ambulatorialmente e internar 24 horas após, ainda que ela não tenha sido eliminada. Em ambos casos, o colo estará mais maduro e a chance da indução “pegar” é muito maior.
Se existir mais pressa para o término da gestação e/ou vigilância intrahospitalar, a sugestão é associar o uso da sonda com a ocitocina (existem estudos suportando o método). De qualquer maneira, desde que o binômio mãe-bebê esteja bem e não exista emergência, não existe tempo limite para a indução. Para além disso: mesmo depois que a sonda cair e for iniciada a ocitocina, é possível utilizar protocolos com pausas (noturnas) e reinício no dia seguinte – assim aumentam as chances para os receptores uterinos responderem e a indução ser bem sucedida. Isso pode ser feito por alguns dias, monitorada a vitalidade fetal.
Vale marcar que o início do processo de indução pode (e deve!) ser iniciado com métodos naturais, e, para tal, não existe protocolo estabelecido: cada profissional conduzirá de uma maneira, conforme sua experiência e de acordo com o que achar mais adequado e previamente discutido com a gestante.
Acupuntura, uso oral/local de óleo de prímula, ingestão de tâmaras a partir das 36 semanas, uso de óleo de rícino (muito embora não haja estudos de qualidade sustentando) e descolamento de membranas são intervenções naturais que eu gosto de usar – em esquema combinado com cada paciente – e que podem ajudar muito na indução do parto.