Passei os últimos 10 posts explicando sobre as indicações reais e absolutas de cesariana e, como já imaginava, houve muitas dúvidas a respeito de casos individuais. Em alguns, é possível esclarecer o que aconteceu, mas em tantos outros, é impossível. Sem acompanhar o caso, sem conhecer a mulher e o contexto no qual ela está inserida, sem ter estado lá e sentido a situação, é bem difícil entender se aquela cirurgia foi necessária ou não. Isso porque não só existem algumas indicações relativas de cesariana (que podem acabar virando absolutas dependendo do cenário), como se põem na balança também o desejo da mulher (decisão compartilhada após escolha informada) e o feeling do momento (e aqui a experiência e segurança do atendente contam por demais).
Um dos exemplos mais clássicos é o do bebê em apresentação pélvica em gestante que ainda não entrou em trabalho de parto, mas que precisa abreviar a gravidez por alguma outra indicação, ou seja, a gestação não poderia ir até 41/42 semanas. São casos mais comuns: pré-eclâmpsia/hipertensão gestacional, diabetes gestacional, colestase obstétrica, oligodramnia, adramnia, CIUR (crescimento intra-uterino restrito). Nesses contextos em que a gestação precisa ser interrompida, caso o bebê esteja pélvico e o trabalho de parto não se inicie espontaneamente, a cesariana estaria indicada. Aqui no Brasil não só não temos vasta experiência em indução de pélvicos (como tem o Dr Frank Lowen em Frankfurt), mas também não temos quaisquer respaldos científicos a respeito – e aí também cabe a tal da individualização.
Outra indicação relativa bastante frequente é no caso de gestação gemelar em que o primeiro bebê se encontra pélvico e existem alguns riscos associados: também indicação relativa de cesariana.
E, finalmente, tem o desejo materno. Pode ser que eu me arrependa de ter escrito isso (porque é carta branca pra bastante coisa errada por aí), mas vamos lá: a mulher que foi exaustivamente informada, está ciente de todos os riscos, acompanhada por profissionais idôneos que não a tentaram enganar e, principalmente, após já ter iniciado o trabalho de parto espontâneo, decide que não quer o parto normal, ela deve ser respeitada e sua cesariana estaria indicada por “decisão materna”. Como essa última rende pano pra manga (porque sabemos que se aproximam do 0% mulheres que escolhem cirurgia se amplamente informadas), apenas trouxe para fechar a conclusão dessa série.
Tudo deve ser sempre conversado à exaustão entre equipe e família, postos à mesa todos os riscos e benefícios dos dois lados. Sem indicação real de cesariana, a decisão pela cirurgia precisa ser compartilhada, em corresponsabilidade com a equipe. Nada na obstetrícia é 100%, mas na realidade obstétrica em que vivemos, não tenha medo de querer saber absolutamente todos os detalhes a respeito da sua assistência.