O descolamento ovular na gravidez é cientificamente chamado de hematoma retrocoriônico ou hematoma subcoriônico e é caracterizado por uma área de sangramento entre o útero e o saco gestacional. O hematoma acontece quando se rompe um vaso sanguíneo nessa região, gerando um acúmulo na membrana do córion, traduzindo-se em uma área de descolamento. De maneira geral, não há fatores de risco e nem evidências de que possa ter aparecido por esforço exagerado materno ou qualquer outra coisa que culpabilize a mulher.
A incidência é de 3 a 11% das gestações, ou seja, é bem frequente e a esmagadora maioria das gestações vai evoluir bem apesar da presença do hematoma.
O principal sintoma é o sangramento, mas nem todo sangramento de primeiro trimestre significa hematoma e nem todo hematoma dá sintomas! Muitas mulheres sequer saberão que tiveram um hematoma: a maioria delas descobre quando faz a ultra precoce de início de gestação.
A presença do hematoma pode aumentar levemente o risco de perda gestacional precoce, mas a maioria das gestações seguirá sem maiores intercorrências, especialmente se o batimento cardio embrionário (BCE) tiver sido visualizado e em boa frequência.
Com relação a isso, existem estatísticas de sucesso na gestação relacionadas à presença de bom BCE:
80% de chance de sucesso se o BCE for visto antes das 8 semanas e 97% de chance se o BCE for visto depois das 8 semanas.
Em média, a chance de sucesso é de 88% – suficiente para afirmar que a chance de dar tudo certo é muito grande.
Há também estatísticas que relacionam o risco de perda com a faixa etária da gestante:
- Entre 25- 29 anos – risco de perda de 11%
- Entre 30-34 anos – risco de perda de 12%
- Entre 35-39 anos – risco de perda de 15%
Ultrassonograficamente falando, medir a área de descolamento não é diretamente capaz de predizer resultados, mas a relação entre o tamanho do hematoma e o tamanho do saco gestacional pode nos dar pistas se aquela gestação se encontra em maior risco ou não. Em geral, descolamentos maiores que 50% do saco gestacional podem estar relacionados com maior chance de evolução para aborto espontâneo, mas obviamente não é regra e a maioria ainda seguirá evoluindo bem.
Sei que este é um assunto que deixa as mulheres tensas, mas é bom ter em mente que as chances de dar tudo certo são altas e que o melhor que você pode fazer é ficar tranquila (na medida do possível, claro) e esperar, uma vez que não existem evidências de que repouso absoluto ou abstinência sexual melhorem as chances de sucesso na gestação ou que o contrário aumente as chances de abortamento. De maneira análoga, também não há evidências que suportem o benefício do uso da progesterona e, portanto, ela não deve ser prescrita.
No entanto, a fim de tranquilizar mais a mulher, eu acho que vale fazer um repouso relativo e evitar grandes esforços. Mas isso com a finalidade de evitar fatores de confusão e culpa materna caso a gestação progrida para um desfecho negativo. Mesmo assim, a prescrição de progesterona continua sem justificativa alguma.
Caso a mulher precise muito se tranquilizar, é possível repetir a ultra em duas semanas para verificar a evolução, mas fazer a morfológica de primeiro trimestre (TN) na época indicada (11-14s) já é suficiente – e quantidade de ultras não muda o desfecho. Portanto, em caso de achado de hematoma, a conduta é manter a calma e aguardar. E, em caso de hemorragia significativa, caberá avaliação na maternidade de referência.