Sempre que julgo algum assunto estar mais do que explicado, vem uma enxurrada de perguntas nos stories pra me lembrar que não é bem assim e que ainda vale conversar sobre temas que se consideram “batidos”. Por isso, resolvi fazer essa trilogia de posts, em que discutiremos a função da Doula, da Enfermeira Obstétrica e, por fim, qual é a diferença entre elas e como montar a equipe.
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Lembrando que me refiro ao mundo ideal, em que se é possível contar com essa gama de profissionais e os escolher – e eu sei que, em muitos casos, não é possível (limitações financeiras e indisponibilidade regional).
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Vamos começar pela Doula.
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O trabalho dessa profissional é dar apoio emocional e físico para a mulher durante a gestação, parto e pós-parto. A doula é de escolha da mulher e não deve fazer parte de nenhuma equipe; seu compromisso é única e exclusivamente com aquela gestante.
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O tipo de trabalho que a doula faz costuma confundir as pessoas, que por vezes, pensam que o companheiro ou algum outro familiar consegue fazer o papel dessa profissional. Não é bem assim. E não digo isso para desmerecer a importância do familiar no nascimento do bebê; o problema é que uma pessoa conhecida e tão intimamente relacionada à gestante estará emocionalmente ligada a ela e, portanto, não conseguirá exercer o papel da doula com a mesma eficiência. Além disso, ainda que essa pessoa se mantenha equilibrada, racional, centrada e consiga apoiar 100% a mulher, o trabalho de doulagem perpassa pelo entendimento da fisiologia do parto e do comportamento da parturiente em todas as suas fases – e este conhecimento faz parte da formação da doula, sabendo o que esperar e o que propor para alívio à dor, se preciso for, em cada uma dessas fases.
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Porém, ainda que a doula tenha plena noção da fisiologia do parto, a função técnica não cabe a ela. Isso porque o foco de sua atuação deve ser no cuidado à mulher, à sua família e ao ambiente.
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Traduzindo: não cabe à doula a ausculta dos batimentos cardíacos (até porque não é só “escutar” os batimentos, é ouvir, analisar e entender o que aquela informação quer dizer – coisa que uma doula não tem formação para fazer). Também não cabe à doula fazer toque vaginal e evoluir o parto, cabendo aqui a máxima: “DOULA NÃO FAZ PARTO, FAZ PARTE!” E, embora ela oriente e disponibilize informações, a doula também não tem a responsabilidade de decidir pela gestante ou opinar sobre decisões técnicas. Ela tem o papel de orientar a família a produzir um documento – o plano de parto – em que constarão os desejos da mulher acerca do nascimento, os quais deverão ser integralmente respeitados pela equipe, desde que não haja risco à vida e a segurança do binômio mãe-bebê esteja garantida.
Infelizmente, vivemos em um país cesarista/intervencionista e a realidade obstétrica no Rio de Janeiro, em especial, é deveras complicada, levando mulheres a buscarem soluções tidas como milagrosas para conseguir seus partos respeitosos, contratando uma doula como se esta fosse capaz de intervir nas decisões técnicas e assim assegurar um parto respeitoso. Cuidado! A doula não pode ser responsabilizada por isso e cabe somente à gestante fazer as escolhas e tomar decisões a respeito da via de nascimento e do parto que deseja. É claro que a profissional acompanhará sua jornada e a apoiará em tudo, mas quem decide o caminho a seguir nessa trajetória é VOCÊ! Saber até onde a profissional pode ir e como ela pode ajudar antes de fechar o contrato é fundamental.
De qualquer maneira, a atuação da doula é fundamental e não sou eu quem diz, são as evidências científicas. Já está comprovado que ter uma doula diminui a chance de cesariana, diminui a percepção da dor e melhora a satisfação com o parto, além de diminuir a taxa de uso analgesia e aumentar a adesão a partos sem intervenção em geral.
No próximo post, vou falar da Enfermeira Obstétrica.