No último post, pincelei sobre a função da Doula na gestação e no parto. Vamos agora à atuação da Enfermeira Obstétrica (EO).
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A EO tem exatamente a função que a doula não tem: técnica. Ela está preparada para atender partos de risco habitual, seja em domicílio (partos domiciliares planejados), seja atuando na assistência pré-hospitalar das mulheres que optaram por partos hospitalares – as EOs da nossa equipe fazem justamente esse tipo de trabalho.
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Nesse nosso modelo de assistência, a Enfermeira Obstétrica costuma chegar um tempo depois da Doula, quando esta já sinaliza o avançar do trabalho de parto (baseado no comportamento da gestante e no padrão de contrações), avalia a mulher, procede a ausculta intermitente a intervalos regulares de tempo, garantindo a segurança do bebê ainda em casa, até que seja o momento oportuno de transferir para o hospital. Ela também pode sugerir exercícios, movimentos e posturas dependendo do posicionamento e da altura da cabeça do bebê na pelve, além de saber identificar e apontar riscos, caso surjam.
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Ela atua de maneira multidisciplinar, estabelecendo sempre a bem-vinda parceria com a doula, favorecendo e potencializando o apoio emocional necessário, e também atuando na parte técnica com a equipe médica para avaliação e discussão de cada caso, mesmo de maneira remota (obviamente temos um grupo de Whatsapp pra isso 😂).
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Por sua formação mais voltada ao risco habitual, a EO sempre irá valorizar e priorizar soluções naturais e minimamente invasivas para as mais diversas situações que possam se apresentar durante o parto. Ela é capaz de sugerir variações de posição e adoção de posturas para melhorar a descida do bebê, pode aplicar massagens, rebozo, óleos e acupuntura (as nossas são também acupunturistas), bem como lançar mão de muitas outras técnicas não-farmacológicas para alívio da dor.
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No caso de gestações de alto risco e no hospital, a EO divide com a anestesista da equipe (que raramente atua de maneira direta) a função de assumir os procedimentos que por ventura seriam feitos pela enfermagem do hospital, se preciso, tais como: instalar acesso venoso, aplicar ocitocina intramuscular profilática pós parto, administrar antibióticos etc. Dessa maneira, ela consegue apoiar na manutenção da assistência humanizada e respeitosa, liberando os profissionais médicos para o manejo do risco em si, se necessário. Ademais, atua da mesma maneira que no risco habitual, oferecendo também conforto e segurança e alternando-se conosco, obstetras, na ausculta fetal.
Nesse sentido, por atuar em íntima sintonia com a equipe de parto/obstetra assistente, a EO é parte da equipe e com ela atua alinhada, justamente o que a doula não deve/precisa fazer. Em português bem claro: a EO é da equipe, a doula é da MULHER. E cada uma guarda suas funções, que não podem ser sobrepostas às da outra, ainda que haja interseções. Amanhã trago o último post da trilogia!