Dorso à direita prolonga ou impede parto?

Não sei exatamente o que andam orientando por aí, mas sei bem que é muito difundida essa ideia de que o dorso à direita atrapalha o parto. Vejo, tanto por aqui, como no meu próprio pré-natal, mulheres entrando no terceiro trimestre já encafifadas e inseguras porque o bebê se encontra naquele momento com dorso à direita, achando que o parto será deveras prejudicado ou prolongado, preocupadas como se fosse algo anormal ou impeditivo.

Não só não é impeditivo, como é irrelevante antes do trabalho de parto.

Sabemos que, comumente, costuma ser mais fácil para o bebê insinuar-se na pelve materna quando seu dorso está virado para o lado esquerdo materno, em se falando da relação do menor diâmetro da cabeça fetal com o maior diâmetro da pelve média – este é o famoso “encaixar”, aliás. Depois que o bebê encaixa (mais usualmente durante o TP, podendo acontecer nas semanas que o antecedem), normalmente ele vira as costas para a frente da mãe enquanto finalmente desce pela vagina. É assim que acontece na maioria dos partos.

No entanto, por vezes, vemos que o contrário também acontece: dorso à direita e bebê com dificuldades para rodar e assim encaixar, o que pode fazer com que o trabalho de parto seja mais arrastado, principalmente durante a fase latente, podendo torná-la mais prolongada e cansativa. É comum nesses casos notarem-se contrações mais espaçadas e/ou mais curtas, padrão tipicamente distócico. No entanto, alguns bebês podem insinuar-se pela pelve com o dorso à direita e descer assim mesmo, especialmente em se falando de secundíparas ou multíparas.

De qualquer maneira, a posição do dorso do bebê ANTES DO TRABALHO DE PARTO não importa, já que pode mudar muito rapidamente, de uma hora pra outra – bebês se mexem né? Caso não aconteça antes do TP, as contrações começarão a empurrá-lo para baixo para que a cabeça adentre a pelve e o parto avance. Essa dinâmica típica favorece o giro para o lado “correto”, simplesmente porque costuma ser o caminho mais fácil – pura biomecânica.

Se houver mesmo dificuldades nessa rotação, seja por qualquer característica física materna ou mesmo fetal, será necessário suporte com alguns exercícios e posturas durante o TP para facilitar essa rotação, a serem estimulados, orientados e supervisionados pela equipe assistente. Vale sempre reafirmar que nada disso é indicação de cesariana. Ah, é claro: não adianta indicar ocitocina pra “corrigir” o padrão contrátil uterino sem antes solucionar o que o causa, tá? Estudemos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

plugins premium WordPress