Atenção! Assim que termina a onda chata de Black Friday, começa um forte movimento “promocional” nas maternidades brasileiras: a cesariana de emergência de final de ano. E qual é a emergência? Gestações de alto risco – risco de atrapalhar as festas do doutor.
Adoraria dizer que essa introdução era uma brincadeira pra relaxar, mas é justamente o contrário, é uma ironia para ALERTAR. A partir de agora e nas semanas subsequentes, o festival de diagnósticos duvidosos irá brotar: vai ser um tal de bebê que estava ótimo de repente em percentil alto (ou baixo) precisando muito nascer, cordão assassino enrolado no pescoço, quadril sem passagem, bebês muito altos na pelve, gestações de 40s passando do tempo ou de 39s com colo ainda fechado e outras situações que já sabemos não serem indicações reais de cirurgia (e muito menos eletiva).
Tanto não são emergenciais que, em muitos casos, o médico sugere resolvê-las alguns dias depois, em horário comercial, claro – ué, se era urgente, por que não correr e operar agora?
O Brasil não é o vice-campeão de cesarianas no mundo à toa, dados de 2018 mostram uma taxa de 83% dessa via de nascimento, se considerarmos a rede particular. Além disso, pasmem: dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) exibem que a quantidade de cesarianas costuma DIMINUIR no período entre Natal e Ano Novo, evidenciando a opção da cirurgia eletiva como forma de evitar o nascimento durante o período de festas, indo em direção oposta ao número crescente de internações de RNs em UTIs neonatais, especialmente pela prematuridade iatrogênica (e suas consequências) e problemas respiratórios.
Que fique bem claro que não estou afirmando que todo e qualquer diagnóstico está equivocado e que não se devem fazer cesarianas – quando bem indicadas, são bem-vindas e salvam vidas, seja em período de festas e feriados ou em qualquer outro momento. O que sugiro fortemente é que indicações sejam bem explicadas e respaldadas pela ciência, que você possa perguntar tudo que precisa para se sentir segura e que (se possível) você possa refletir, se informar e buscar outras opiniões.
Se você já escolheu a cesariana para o nascimento para seu filho, trago uma sugestão: reconsidere! A cirurgia traz 3x mais riscos para mãe e 120x mais riscos para o bebê quando realizada sem absoluta indicação e, na minha vivência, vejo que mulheres bem informadas e apoiadas dificilmente fazem essa opção e perdem o medo – portanto, informe-se e reflita! Ainda dá tempo de trocar de equipe, de médico, contratar uma doula, optar pelo SUS, ler um pouco mais, entender melhor o nosso cenário obstétrico. Se, ainda assim, você optou pela cesárea, pelo menos espere a deflagração do trabalho de parto (e não abra mão disso!), pois só ele nos mostra que o bebê está pronto para a vida extrauterina; não há outro indicativo seguro para isso (em condições normais, claro). Não priorize a conveniência do médico sobre a sua saúde e a do seu bebê! O melhor presente de Natal que você pode dar ao seu filho é respeito pelo tempo certo da sua chegada ao mundo.