Uma das principais dúvidas por aqui é sobre o momento mais adequado de se encaminhar para o hospital a partir do momento em que contrações se iniciam. O que poucas sabem é que a presença de contrações ritmadas é só um dos parâmetros a serem avaliados – e não existe aquela cena clássica e dramática dos filmes e novelas: a mulher começa a sentir dor e todo mundo sai correndo desesperado porque o bebê poderá nascer a qualquer momento.
A hora de ir para a maternidade depende de diversos fatores e o principal mesmo é a realidade de cada mulher. Caso você não tenha equipe 1:1 e vá usar o SUS ou mesmo o plantão do plano de saúde, tudo dependerá de como você foi orientada ao longo do pré-natal, se você tem doula ou não, a distância da sua casa até o hospital, se é seu primeiro filho ou não, se você tem partos normais prévios ou não, se sua gestação é de risco habitual ou alto risco, se a bolsa já rompeu… e por aí vai. Em linhas gerais, o ideal mesmo é tentar evitar uma internação precoce, que sabidamente aumenta o risco de intervenções desnecessárias e até mesmo cesariana desnecessária. Para isso, a recomendação é avaliar o seguinte:
– Observar o padrão contrátil: de quanto em quanto tempo as contrações estão vindo?
– Esse padrão se sustenta por um período de tempo razoável (2-3h)?
– Qual é a duração média das contrações?
– A mulher já vocaliza, já se encontra introspectiva, mais conectada, sem muita conversa, irritada, impaciente?
– Qual é a distância para a maternidade? Tem trânsito a essa hora do dia?
Se as contrações estiverem durando cerca de 1 minuto cada, vindo a cada 3 minutos, se a mulher já estiver claramente entregue ao trabalho de parto e residir relativamente perto do hospital (cerca de até 30-40 minutos de distância), essa é a possível hora de procurar o atendimento – seja ele em casa (EO de equipe particular ou de PD) ou encaminhando-se ao hospital para adequada avaliação.
De qualquer maneira, essas orientações devem ser dadas no pré-natal (independente se for SUS, plano de saúde ou equipe totalmente particular), justamente porque precisa levar em consideração a individualidade de cada cenário familiar, pois são muitas variáveis a serem consideradas e o assistente deve colocar tudo isso (e muito mais) na balança.
Caso você tenha equipe 1:1 que conte com Enfermeira Obstétrica, a ideia de evitar a internação precoce ainda é importante, mas neste caso a EO se encaminha à casa da mulher e fica responsável por determinar o momento mais oportuno para a remoção, em conjunto com a equipe.
Ela examina a gestante (sinais vitais, inspeção visual, padrão de contrações, toque vaginal) e, principalmente, procede a vigilância fetal com ausculta intermitente a intervalos regulares de tempo até que o parto evolua o suficiente até o momento mais oportuno para a transferência ao hospital. Nesse caso, também existem muitas variáveis, como a distância à maternidade, partos normais anteriores (e a história deles), se existe algum risco associado àquela gestação (prévio ou intraparto identificado pela enfermeira em casa), padrão de contrações, dilatação e apagamento do colo uterino, posicionamento e descida do bebê e até mesmo o horário para se evitar trânsito e melhor trajeto, com mais conforto e segurança.
Independente de todas essas variáveis, vale pontuar que alguns (raros) partos irão inevitável e inesperadamente evoluir muito rápido e alguns outros de maneira muito arrastada (também não é o mais comum) – não raro o nascimento ainda demora incontáveis horas, ainda que a remoção se dê com TP já bem avançado. Medicina não é ciência exata e não se é possível prever ou garantir um desfecho idealizado. O óbvio também precisa ser dito! 🤪