“Imagine que você está escalando uma grande montanha, depois de subir bastante, no final de uma porção íngreme, você se depara com uma grande parede rochosa que tem que transpor para alcançar o topo. Embora você esteja mais perto do que nunca, pode perder a noção dessa relatividade e se desesperar, consumindo-se na batalha contra essas últimas e penosas contrações.” (Parto Ativo – Janet Balaskas)
Esse trecho descreve perfeitamente a fase do trabalho de parto que precede o expulsivo, chamada fase de transição. É o momento da “covardia”, bem típico e marcado em muitas mulheres, quando boa parte reclama e vocaliza muito mais, desespera, fala em desistir e refere ter chegado ao seu limite.
Depois de algumas boas horas de trabalho de parto (em geral), nesse momento as contrações estão mais seguidas, longas e dolorosas, cedendo menos intervalo para que a mulher descanse. O cansaço começa a tornar essa fase ainda mais desafiadora e pode somar-se a tudo isso tensão, que faz com que se perpetuem pensamentos confusos e conflitantes. Em muitos casos, a dilatação já é total e ela sente tanto as contrações mais intensas quanto sinais de que o bebê força a pelve, o que culmina por fazê-la sentir estar completamente fora do controle da situação. Se antes ela já esperava o que aconteceria, aqui a ENTREGA é fundamental, quase que obrigatória. Rola, ainda, uma descarga de adrenalina nesse momento (o hormônio de luta e fuga), o que pode aumentar o medo, a vontade de fugir e o desejo de ser “salva”.
Não é possível saber quanto tempo essa fase perdurará: em algumas mulheres dura menos de uma hora e, em tantas outras, pode durar algumas horas. Umas passarão mais intensamente por esse momento e outras nem tanto. Lembra que parto é imprevisível e cada uma terá o seu.
Para ajudar nessa fase, recomendo:
– Informação: saber que esse momento do parto é normal, que está tudo bem e dentro do esperado. Essa consciência é importante não só para a gestante, mas principalmente para seu acompanhante, que não deve se desesperar quando ela ameaçar desestabilizar;
– Equipe: que também entenda a fisiologia do parto e esteja preparada para oferecer apoio neste momento, além de suporte não farmacológico. Acima disso, é importante que a equipe esteja alinhada com você e sensível ao que você irá dizer e solicitar;
– Atenção a seu corpo: em um ambiente acolhedor, com equipe dando apoio e acompanhante tranquilo, é possível “ouvir” o que seu corpo diz – ele irá naturalmente encontrar posições e maneiras de lidar com essa fase – permita-se;
– Doula, que te auxilie com técnicas e formas de lidar com tudo caso esse período se prolongue sobremaneira e que te encoraje a vocalizar e assumir posturas que melhor funcionem para você;
– Entrega: deixar ser é o pulo do gato para esse momento. Lembre-se, quando chegar a hora: “se você chegou até aqui, falta muito pouco para ter seu bebê nos braços!”
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