Fico incomodada em torno do terror que (AINDA) ronda gestações ditas “tardias”, que acontecem após os 35 anos. Uma coisa é informar detalhada e corretamente e, de posse dessa informação, a mulher fazer suas escolhas conscientes e tomar suas decisões (já sabemos que nem toda gestação foi escolha da mulher, certo?). Outra é desnecessariamente medicalizar a gravidez, infantilizar/diminuir a gestante e reduzi-la a uma bomba relógio prestes a explodir.
Pois gestações após os 35 anos – e especialmente após os 40 – não são esse horror que se pinta e estão cada vez mais comuns e naturalizadas.
O que a mulher que pode planejar a gestação precisa saber, então? Eis:
– Que após os 35 existe diminuição da reserva ovariana e começa a diminuir progressivamente a chance de fertilização espontânea. Caso ela seja tentante por mais de 6 meses (mantendo consistentes tentativas e após rastreio pré concepcional básico realizado – tem post sobre isso!), recomenda-se buscar um especialista em infertilidade conjugal;
– Que após os 40, há leve aumento no risco de abortamento espontâneo, parto prematuro, diabetes gestacional e hipertensão gestacional/pré-eclâmpsia. Um bom acompanhamento pré-natal é suficiente para dar conta dessas questões, caso elas apareçam – bem como em qualquer outra idade;
– Que o seguimento pré-natal, a priori e desde que não surjam condições clínicas adversas (alto risco), é igual ao de qualquer mulher de outras idades, o que me leva ao próximo ponto;
– Que a idade dela NÃO É indicação de risco por si só;
– Que a idade dela NÃO É indicação de indução de parto e menos ainda de cesariana;
– Que a idade dela é problema dela, o corpo é dela, as decisões são dela e nos cabe respeitá-la em seus desejos, inseguranças, medos, fortalezas… como todas as mulheres devem ser tratadas, afinal.
Sabemos que mais do que a idade da gestante, o que mais impacta MESMO em risco materno fetal são os hábitos cotidianos, construídos por toda uma vida. Ou crêem que uma mulher de 40 não pode ser mais saudável que uma de 20? Pois então.