Quem acompanha a microrealidade do mundo da gestação-parto-puerpério nas redes certamente viu a baita polêmica rolando a respeito da fotografia no parto humanizado. Antes de explanar minha opinião e mergulhar na treta, queria pontuar que essa discussão é elitista ao extremo, pois se já é bem complicado e excludente pagar por equipes particulares e possuir planos que aceitem as maternidades onde essas equipes atuam, imagina adicionar a fotógrafa a essas contas? Fatalmente não é pra todas.
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Vamos lá: a presença de uma fotógrafa na cena no nascimento atrapalha na evolução do parto? NÃO SEI. Simplesmente porque não sou eu quem vai dar essa resposta, ela cabe apenas à mulher e sua família. Sabe-se (e já pontuei aqui mais de uma vez) que uma sala de parto cheia de gente pode sim atrapalhar o processo e impedir a entrega completa, mas não necessariamente a fotógrafa quebra esse clima. Pode muito bem ser uma enfermeira, o anestesista ou os próprios obstetras. Já vi mulheres pedindo para o próprio marido sair (e saiu)!
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É claro que recomendo que se contrate profissional experiente, que entenda minimamente o que é um parto e saiba se portar conforme. Algumas fotógrafas inclusive possuem curso de doulagem, pois buscaram compreender mais sobre anatomia e fisiologia do nascimento. Nessas, confio de olhos fechados, porque saberão seus lugares naquele ambiente, saberão quando estar ou não ao lado da mulher, quando respeitar os momentos de privacidade e retirar-se de cena, quando necessário for. Ainda, é lindo ver o envolvimento delas com todo o cenário, toda a ajuda, entrega, o comprometimento.
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Equipes que respeitam mesmo a fisiologia do parto e nela acreditam não ficam 100% ao lado da mulher e observam atentamente em um canto, revezando-se os profissionais pra ausculta fetal intermitente a intervalos oportunos de tempo. E a fotógrafa não é (ou não deve ser) exceção.
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Já presenciei mulheres que não queriam ser deixadas sozinhas, mulheres plenas e realizadas ao saber que seus partos estavam sendo registrados, mulheres que sentiram justamente na fotógrafa a segurança e o suporte de que precisavam. Algumas delas gostam de compartilhar suas fotos, publicar nas redes sociais e gentilmente nos permitem que as usemos também. Muitas querem mostrar pro mundo seus partos, por verem-nos como conquista e realização pessoal. Já outras, não. Preferem reservar-se à sua intimidade e não querem nenhum tipo de exposição. Grande parte delas (senão a maioria) sente-se feliz em poder revisitar, resgatar e ressignificar através de imagens e vídeo tudo aquilo que viveram – e que, não raro, não conseguem lembrar 100%, em meio à nublada partolândia. Muitas que poderiam ter contratado foto e vídeo e não o fizeram, se arrependem (o contrário eu nunca vi). Algumas contratam apenas foto e lamentam por não terem fechado também o vídeo. Outras seguem a vida seguras de que não gostariam de registros, não se sentiriam à vontade, sentir-se-iam expostas ou simplesmente não têm mesmo essa necessidade de reviver tudo depois, preferindo manter apenas o que suas memórias lhes reservam.⠀
Qual delas está certa? Não me cabe dizer. Sei que todas merecem ser informadas e ouvidas: o que ELAS sentem a respeito? Quais são seus medos? Quais são os prós/contras de ter mais uma pessoa presenciando seu parto? O que a mulher QUER?⠀
O que me cabe dizer é que temos que tomar cuidado com verdades ditas por aí. Questionem sempre, pra sempre, incansavelmente. Reúnam todas as informações, reflitam, analisem e construam VOCÊS o parto desejado. Equipes que, por ventura, “contraindiquem” ou tentem dissuadir a gestante da presença de fotógrafas ou mesmo doulas (sim, existem!), o que estariam querendo esconder? O quanto isso interefere no protagonismo da mulher com relação a seu parto? Humanização pra quem?⠀
O clichê se faz necessário: o parto é seu. Você o constrói. Mais ninguém.
Na foto, a fotógrafa @deborasilveirafotografia registra discretamente em vídeo um dos partos da equipe, enquanto eu ausculto e vigio quietinha, no meu canto ao lado da banheira.