Quem acompanha as noticias do mundo gestação-parto-maternidade já sabe que, em SP, a deputada Janaína Paschoal propôs o Projeto de Lei (PL) 435/2019, que determina a realização de cesariana a pedido da mulher, independentemente de indicação médica no Sistema Único de Saúde (SUS). Sob a justificativa de garantir autonomia das mulheres, reduzir violência obstétrica e evitar desfechos negativos, ela alega que o direito à cesariana deve ser estendido a todas as mulheres – no Sistema Particular, o acesso à cirurgia é amplo e irrestrito.
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Há opiniões muito interessantes a respeito divulgadas por profissionais sérios e ativistas do parto no Brasil, como @melania44, @coletivonascer e @brauliozorzella_obstetra . Mas queria convidar vocês a pensar comigo e trago um dado pessoal: na minha prática, eu nunca (NUNCA) vi mulheres amplamente informadas ESCOLHEREM a cesariana para o nascimento de seus filhos. É claro que há mulheres que, por traumas anteriores ou quaisquer outras questões pessoais, mesmo depois de informadas, vão preferir a cirurgia. Mas o que a esmagadora maioria delas quer é respeito, dignidade, confiança, segurança de que está tudo correndo bem, apoio, acolhimento, opções para lidar com a dor (desde uma palavra de encorajamento até a analgesia à disposição). Tá tudo bem ter medo, tá tudo bem achar que não vai lidar bem com a dor, tá tudo bem se sentir insegura, tá tudo bem ter medo dos partos vaginais violentos (aliás, confesso que, se a opção fosse parto violento ou cesárea, eu escolheria a cesárea). O que não está tudo bem é achar que uma cirurgia que traz mais riscos tanto para ela quanto para o bebê é o que irá solucionar esse monte de parto desumano que vemos por aí.
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É por isso que (senta na cadeira que agora eu vou ser dura mesmo): eu sou contra as cesarianas sem justificativa médica. Contra mesmo. Entendo o direito da mulher sobre seu corpo, entendo sua autonomia, respeito seus medos e sua história.
Mas não há nada que justifique OPERAR UMA PESSOA SEM NECESSIDADE, AINDA MAIS ADICIONANDO RISCOS PARA AS DUAS VIDAS QUE ALI ESTÃO. Isso não é brincadeira, gente, entendam que essa opção não é real.
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Não faz o menor sentido combater violência obstétrica sem entender o que é um parto verdadeiramente digno e respeitoso – ou vocês acham que não há/haverá cesarianas violentas? Não faz sentido ACHAR que cesarianas são “melhores” quando há EVIDÊNCIAS comprovando justamente o contrário. Cesarianas são maravilhosas quando bem indicadas, quando não, são apenas mais arriscadas e descabidas.